Contemplo o lago mudo 
Que uma brisa estremece. 
Não sei se penso em tudo 
Ou se tudo me esquece. 

O lago nada me diz, 
Não sinto a brisa mexê-lo 
Não sei se sou feliz 
Nem se desejo sê-lo. 

Trêmulos vincos risonhos 
Na água adormecida. 
Por que fiz eu dos sonhos 
A minha única vida? 

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”