Inaugurou no passado dia 10 de abril a exposição GÉNESIS do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, com a curadoria da sua companheira Lélia Wanick Salgado em Lisboa. A Galeria Municipal Torreão Nascente da Cordoaria Nacional foi a eleita para receber esta coleção especial, que nos faz viajar pelo globo inteiro, aos olhos do Salgado.
A Magazine, como amante de boas viagens que é, aproveitou a boleia do artista e embarcou nesta aventura não só visual, mas também interventiva.
“Além de trazer aos olhos do público a beleza de povos isolados e paisagens grandiosas, Génesis representa uma convocatória para a batalha.” Lélia Wanick Salgado e Sebastião Salgado
Era domingo à tarde e a fila à entrada contornava a R. Mécia Mouzinho de Albuquerque. Chegando às instalações, fomos logo avisados para realizarmos a visita sempre pelo nosso lado direito já que ainda havia o salão do andar de cima para visitar.
No andar de baixo começámos por apreciar o Sul do Planeta e as espécies que contam as histórias vividas na Antártida. As suas paisagens inóspitas e desertas, coloridas pela presença da sua perseverante fauna: os pinguins, leões-marinhos e baleias. As ilhas Geórgia do Sul estão também em grande destaque, onde numerosas espécies de pinguins, albatrozes, petréis gigantes e cormorões fazem a sua vida. As expressões dos animais que parecem terem a consciência da objetiva, fazem-nos invejar o fotógrafo, por esses momentos de contato privilegiado com estas espécies de difícil acesso.
Ainda no andar de baixo, mas viajando até África, deparamo-nos com uma realidade tão distinta mas ao mesmo tempo tão contemporânea. Fomos surpreendidos pela vida selvagem do delta do Okavango, no Botswana, pelo olhar sensível dos gorilas do Parque Nacional de Virunga na fronteira da Républica Democrática do Congo com o Ruanda, Congo e Uganda. Há ainda uma fotografia surpreendente de um elefante que vinha em direção ao jipe onde Salgado se encontrava. Conta o fotógrafo, que ao contrário do habitual, este elefante em vez de fugir, afrontou o jipe. O medo dos caçadores furtivos moveu-o nesse sentido.
Os costumes e quotidianos de vários povos estão por aqui retratados, como o San do deserto do Kalahari no Botswana, o das tribos do vale do Omo no sul da Etiópia e ainda das antigas comunidades cristãs do norte da Etiópia. A natureza é abundante e diversa. Do arenoso ao rochoso, a vida brota em toda a parte.
Os Santuários são o último tema do andar de baixo e remetem-nos para as paisagens únicas das ilhas vulcânicas de Galápagos. Incluem registos das populações ancestrais da Nova Guiné e da Papua Ocidental, assim como os Mentawai da ilha Siberut da província indonésia de Sumatra. Madagáscar é também protagonista, sendo reveladas fotografias da sua vida selvagem e vegetação dos diversos ecossistemas.
No andar de cima, estão distribuídas fotografias de Terras a Norte: onde são mostradas paisagens do Alasca, nos EUA, o Parque Nacional Kluane e vida selvagem na ilha Baffin, no Canadá. O norte da Rússia também está presente, incluindo o território de reprodução do urso polar na ilha Wrangel, assim como as populações indígenas do norte da Sibéria e da península de Kamchatka.
A Amazónia e o Pantanal são outra surpreendente viagem. O Amazonas e os seus afluentes, vistos do ar, assemelham-se a uma gigante árvore da vida, com braços e mãos estendidos do coração do Brasil, até aos países vizinhos. A norte existem registos do tepuis venezuelanos, a mais antiga formação geológica do planeta, assim como a vida selvagem do Pantanal em Mato Grosso, Brasil. A tribo índia Zo’é que foi descoberta apenas há duas décadas também está presente na exposição, assim como as tribos mais assimiladas da bacia do Alto Xingu, também no Brasil.
Este é um trabalho que reúne uma pesquisa de mais de uma década à volta do globo, e mais do que uma exposição, é um apelo para a preservação da vida no planeta. Génesis estará patente na Galeria Municipal Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, até ao dia 2 de agosto.
A não perder também o documentário sobre a vida do fotógrafo, de nome “O Sal da Terra” com realização de Wim Wenders.
Horário:
Domingo a quinta-feira: das 10:00 às 19:00
Sexta-feira e sábado das 10:00 às 21:00
Valor: 5€, 3€ com desconto